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20 de Julho de 2015 – 03h46 horas / Diário do Grande ABC

Após dois anos no vermelho, o saldo da balança comercial do Grande ABC voltou a ficar positivo no primeiro semestre. Entre janeiro e junho, a diferença entre exportações e importações feitas por empresas da região ficou em US$ 159,1 milhões. No mesmo período do ano passado, o resultado estava negativo, em US$ 397,1 milhões, superando o deficit dos primeiros seis meses de 2013, de US$ 336 milhões – esse foi o primeiro saldo negativo da série histórica para o intervalo. O levantamento foi feito pelo Diário com base em dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior.

O superavit regional foi puxado pelo desempenho de São Bernardo, que registrou saldo de US$ 520,8 milhões. Ribeirão Pires também fechou o semestre com números positivos (US$ 46 milhões). As demais cidades do Grande ABC tiveram deficit entre janeiro e junho.

Apesar de a balança comercial ter voltado a atingir níveis favoráveis, especialistas alertam que não há motivo para comemoração. Isso porque o resultado positivo não foi provocado por aumento nas exportações – pelo contrário, as vendas ao Exterior tiveram queda de 3,88% no período. O que elevou o saldo foi a redução, ainda mais acentuada, no volume de importações, cuja movimentação financeira diminuiu 21,97%.

Para o professor Sandro Maskio, coordenador do Observatório Econômico da Universidade Metodista, o superavit está atrelado à queda na atividade industrial na região. “Com a indústria produzindo menos, cai a demanda por insumos, que, em muitos casos, são importados. Ou seja, não é que tivemos um fluxo comercial maior. A diminuição das compras internacionais é que provocou esse resultado positivo.”
O especialista acrescenta que é preocupante o fato de as exportações terem apresentado retração, mesmo diante da desvalorização do real ante o dólar. “A queda na exportação, mesmo com o câmbio um pouco mais favorável, é algo a se olhar com atenção, principalmente se houver repetição nos próximos meses. É preciso detectar se essa redução está sendo provocada por uma crise dos nossos parceiros comerciais ou se as indústrias do Grande ABC estão perdendo competitividade.”

CÂMBIO – Se considerada a variação cambial, a situação é ainda mais alarmante. No primeiro semestre de 2014, a moeda norte-americana atingiu pico máximo de R$ 2,43, entre o fim de janeiro e o início de fevereiro. O mínimo alcançado no período foi de R$ 2,19. Neste ano, o dólar bateu o teto de R$ 3,29, em março, e não esteve cotado abaixo de R$ 2,57.

Ou seja, quem fez uma venda em dólar durante o ápice da cotação da moeda neste ano teve 26,1% a mais de retorno do que o empresário que realizou transação internacional no início do ano passado. Mesmo assim, o volume movimentado com exportações neste ano (US$ 2,492 bilhões) ficou 3,88% abaixo do que o registrado no ano passado – essa é a segunda queda consecutiva. Entre o primeiro semestre de 2014 (US$ 2,593 bilhões) e o mesmo período de 2013 (US$ 3,012 bilhões), as vendas externas tiveram retração de 18,15%.

Em todo o Brasil, a balança comercial acumulou no primeiro semestre superavit de US$ 2,22 bilhões. As exportações recuaram 14,7% no período ante 2014, enquanto as importações caíram 18,5%.

Metade das vendas foi para Argentina

Do total de exportações feitas pelas empresas do Grande ABC no primeiro semestre de 2014, US$ 1,1 bilhão foram para a Argentina. Ou seja, 46,18% das vendas feitas ao Exterior foram para os hermanos. O volume movimentado em transações com o país vizinho é quase seis vezes maior do que o registrado em relação ao segundo colocado, os Estados Unidos (US$ 185,2 milhões).

Em seguida estão o México (US$ 174 milhões), o Chile (US$ 116,9 milhões) e a África do Sul (US$ 103,2 milhões).

Para especialistas ouvidos pelo Diário, os números refletem a falta de parceiros comerciais do Brasil. “A Argentina tem sido nossa principal parceira nos últimos anos. Por isso sofremos tanto com a crise cambial deles, que impactou muito na queda de exportações de carros e caminhões para o país”, comenta o professor Sandro Maskio, coordenador do Observatório Econômico da Universidade Metodista.

Diante da dificuldade de fechar negócios com outros países, a economia brasileira se torna dependente da Argentina e de demais nações da América Latina. “É necessário que haja uma diversificação dos parceiros comerciais. Mas, para isso, precisamos ter produção industrial de qualidade, e não exportar somente commodities, como ocorre atualmente. Não temos produtos industriais fortes para exportação”, acrescenta o coordenador do Inpes (Instituto de Pesquisas) da USCS (Universidade Municipal de São Caetano), Leandro Prearo.

Quanto às importações, a maioria vem dos Estados Unidos, cujas transações movimentaram US$ 355,7 milhões no primeiro semestre. Na sequência estão Alemanha (US$ 329 milhões), China (US$ 305 milhões), Argentina (US$ 213,9 milhões) e Coreia do Sul (US$ 101,4 milhões).


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