Braspress compra antiga sede da Itapemirim em Guarulhos (SP)
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08 de Abril de 2014 – 03h31 horas / Frotacia

Tenho a felicidade de estrear neste espaço que me é aberto por FROTA&Cia On Line e pelo amigo José Augusto Ferraz com um “furo” que julgo altamente simbólico das transformações havidas nos últimos anos no mercado de transporte e logística. O fato é que nesta 5ª feira, 3 de abril, foram fechados os últimos detalhes da compra pela Braspress da antiga sede da Transportadora Itapemirim, em Guarulhos (SP), às margens da Via Dutra. Em números redondos, são 98 mil m2 de terreno, sendo 53 mil m2 de área construída.  Segundo informações que me foram transmitidas pelo próprio empresário Urubatan Helou, principal acionista e presidente da Braspress, o negócio envolve cifras da ordem de R$ 135 milhões, entre o preço de compra do imóvel, as reformas necessárias e os investimentos em automação, já que para lá serão transferidas, em prazo ainda não definido, todas as operações atualmente desenvolvidas na sede atual da empresa, na Vila Guilherme.

Como se sabe, quando tiveram início as dificuldades mais agudas que levaram ao encerramento das atividades de transporte de cargas do Grupo Itapemirim, uma das soluções adotadas pela empresa foi a venda do imóvel em questão, em 2008, para um fundo inglês de private equity, que o revendeu para a Igreja Mundial do Poder de Deus, do pastor Valdomiro Santiago. Aliás, a inauguração do novo templo, em janeiro de 2012, deu origem a um dos maiores congestionamentos  já registrados na região, praticamente interrompendo o tráfego em três rodovias – Via Dutra, Ayton Senna e Hélio Smidt . Houve questionamento do alvará de funcionamento concedido pela Prefeitura de Guarulhos à Igreja Mundial. A municipalidade alegou que o alvará era para um público máximo de 30 mil pessoas e, naquele dia, o pastor Valdomiro alardeou a presença de 2 milhões de fiéis. O que parecia um grande problema acabou tendo uma solução surpreendentemente simples: a Igreja Mundial não honrou o contrato, deixando de pagar o preço combinado, razão pela qual o imóvel foi retomado pelo fundo inglês, que agora fechou negócio com a Braspress.

O caráter simbólico desta transação, a que me referi no início, envolve alguns ícones do transporte de cargas em nosso país. Como presidente da NTC&Logística, visitei mais de um vez as instalações da Itapemirim e fiquei muito impressionado com a sua grandiosidade, embora alguns detalhes denunciassem uma estrutura demasiadamente pesada e anacrônica. Também visitei várias vezes a sede da Braspress, na Vila Guilherme. Nesta, o que saltava aos olhos era a alta tecnologia aplicada à gestão da empresa e a automação radical de suas operações. Também ficava claro que as suas instalações físicas seriam rapidamente superadas pelo ritmo de desenvolvimento da organização. Não era preciso ser nenhum expert  para antecipar os destinos de ambas as empresas: uma em claro processo de decadência e outra caminhando no sentido oposto, no rumo da liderança inconteste no seu segmento.

Por outro lado – em que pese a transação não ter ocorrido entre eles – vejo no fato aqui noticiado uma espécie de passagem de bastão de Camilo Cola para Urubatan Helou. O primeiro foi, sem dúvida, ao seu tempo, o maior empresário de transportes do Brasil e um líder respeitado pelos seus pares, tanto que chegou à presidência da então Confederação Nacional dos Transportes Terrestres (hoje CNT). Do alto dos seus 90 anos, ele ainda presta serviços ao país, como deputado federal, com uma atuação absolutamente distinta da maioria de seus pares, pela seriedade e dedicação no exercício do mandato parlamentar.

Já Urubatan Helou, cuja trajetória como empresário tive a oportunidade de acompanhar desde os primeiros passos, caracteriza-se por uma garra e uma determinação incomuns, além da capacidade e da coragem no empreender, que explicam a expansão dos seus negócios, em menos de 40 anos, desde um modesto triciclo, pilotado por ele mesmo, até a frota gigantesca que tem hoje. Quem nunca tremeu diante das enormes dificuldades e da instabilidade do mercado de transporte; quem presidiu com tanto brilho uma entidade importante como o SETCESP; quem tirou de letra um câncer e se transformou numa das maiores lideranças do setor na atualidade, merece, sem dúvida, o troféu representado por aquelas instalações magníficas, que não poderiam ter um destino mais nobre. Para ele – que agora até anda saltando de paraquedas – nem o céu é o limite…


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