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08 de Setembro de 2014 – 04h52 horas / CVG-SP

Em um mês, o trânsito brasileiro mata, em média, 4,1 mil pessoas e causa a invalidez permanente de outras 43,2 mil. Os números são maiores do que os registrados pelo confronto entre palestinos e israelenses, que em julho deixou mais de 1,3 mil mortos e 6 mil feridos, segundo dados da Organização das Nações Unidas (ONU). Esse quadro já seria tenebroso não fosse a constatação da disparada de casos de invalidez permanente em acidentes com motocicleta.

 

De acordo com a Seguradora Líder-DPVAT, dos 340 mil benefícios pagos no primeiro semestre do ano, 76% foram por invalidez permanente. O número é 21% maior do que o registrado no mesmo período de 2013. A faixa etária mais atingida foi de 18 a 34 anos, representando 52% do total das indenizações pagas, a maioria em acidentes com motocicleta.

 

Nas estatísticas do Seguro DPVAT, os acidentes envolvendo o veículo de duas rodas representaram 75% de todas as indenizações pagas no semestre (256.38), embora as motocicletas representem apenas 27% do total da frota nacional de veículos. O levantamento ainda revela que a Região Nordeste responde pelo maior número de acidentes indenizados.

 

O Nordeste, que detém apenas 16% da frota nacional, recebeu 34% das indenizações do DPVAT nas três garantias (Morte, Invalidez Permanente e Reembolso de Despesas Médicas e Hospitalares). O Norte e o Nordeste são as únicas regiões do país em que a frota do veículo de duas rodas supera o número de carros, segundo dados do Denatran.

 

Com apenas 3,3% da frota de motocicletas de todo o país, o Maranhão é o estado com mais acidentes fatais envolvendo o veículo, sendo responsável por 9,7% dos registros. Pernambuco figura em segundo lugar, com 9,4% dos casos de colisões, e a Bahia está na terceira posição do ranking, com 8,8%. Os três estados também estão nos três primeiros lugares do ranking nacional.

 

Lesões em acidentes com motos

 

Boa parte do aumento dos acidentes envolvendo motocicletas pode ser explicada pelo crescimento da frota. Dados do Denatran coletados pela entidade fabricante de motocicletas (Abraciclo) mostram que da frota nacional de 82,8 milhões de veículos, 21,9 milhões são motos. Regiões mais pobres do país já têm hoje mais motos do que carros circulando nas ruas. No Nordeste, o número de motos e motonetas superou a marca de 5 milhões, contra 4,9 milhões de carros nas ruas. No Norte, a proporção é ainda maior: 1,6 milhão de motos contra 1,2 milhão de carros.

 

A mudança de perfil na frota nacional reflete diretamente no crescimento de lesões graves em acidentes de trânsito, como a fratura de coluna, conhecida como traumatismo raquimedular (TRM). De acordo com levantamento da Rede Fhemig do Hospital João XXIII, de Minas Gerais, o TRM está bastante associado a acidentes com aceleração e desaceleração súbita, como os que envolvem motocicleta. Do total de pacientes atendidos por ano pela rede, 40% têm comprometimento neurológico, dos quais 20% com lesões irreversíveis.

 

Conscientização e prevenção

 

Os casos de invalidez também incluem os acidentes com pedestres, que correspondem 22% de todas as mortes no trânsito no mundo e, em alguns países, alcançam dois terços do total. Os dados são da OMS, que lançou no Brasil o manual “Segurança de Pedestres”, voltado para gestores públicos e profissionais da área de transporte. A publicação informa sobre os principais fatores de risco, formas de avaliar se as vias oferecem segurança para quem anda a pé, e sugestões para a adoção de medidas eficazes.

 

Como meio de conscientização e prevenção, o Contran também escolheu o pedestre como tema da Semana Nacional de Trânsito, comemorada entre os dias 18 e 25 de setembro. O tema deste ano será “Década Mundial de Ações para a Segurança do Trânsito – 2011/2020: Cidade para as pessoas: Proteção e Prioridade ao Pedestre”, que faz alusão a necessidade de um amplo debate sobre a legislação, mobilidade urbana sustentável, segura e acessível, priorizando a circulação dos pedestres em face da estrutura viária.

 

Se nada for feito, a OMS estima que 1,9 milhão de pessoas morrerão no trânsito em 2020 e 2,4 milhões, em 2030. Nesse período, entre 20 milhões e 50 milhões de pessoas sobreviverão aos acidentes a cada ano com traumatismos e ferimentos. Daí porque a ONU escolheu o período de 2011 a 2020 como a “Década de Ações para a Segurança no Trânsito”, cujo objetivo é poupar, por meio de planos nacionais, regionais e mundial, cinco milhões de vidas até 2020.


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