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06 de Maio de 2016 – 04h04 horas / G1

A sensação de insegurança e o crescimento do roubo de cargas no estado têm afastado empresas que ficavam localizadas em importantes pontos logísticos para o transporte de cargas do Rio. Empresas próximas que possuíam galpões na Pavuna, na Zona Norte, têm mudado de endereço e, segundo o polo empresarial da região, apenas no último ano cerca de 10% das 45 empresas que integravam o grupo fecharam as portas.

 

“Tem empresas que estão se deslocando, tirando filiais daqui e levando para outros lugares para tentar minimizar. Você junta a crise com o problema do roubo aumentando e gera um impacto bem negativo na região. Se você passa hoje por aqui observa a quantidade de placas de aluga-se na porta. Há dois anos as pessoas me procuravam com cartão pedindo para entrar em contato caso aparecesse algum galpão alugando por aqui”, explicou Marcelo Andrade, presidente do polo.

 

O local é considerado um ponto estratégico por estar próximo de vias importantes no estado para o transporte de carga. “Aqui é um polo logístico extremamente importante, pois tem um ótimo posicionamento para o escoamento de carga, tem saída para a Dutra, Washington Luís, Linha Vermelha, Avenida Brasil, e é perto do Arco Metropolitano. Daqui você tem acesso a tudo. Mesmo assim, não está valendo a pena para as empresas”.

 


Além da saída de algumas empresas, outras que não têm filiais no local estão evitando fazer entregas na região. Com isso, comerciantes que dependem da entrega dessas mercadorias acabam amargando prejuízos e até se colocando em risco para ir buscar mercadorias de valor na sede das empresas.

 

Segundo os donos de lojas, uma das maiores empresas de cigarro do país deixou de fazer entregas na região durante seis meses, no início desse ano a empresa voltou a fazer entregas no local, mas apenas com carro descaracterizado. A entrega de bebidas na região também foi afetada. Donos dos estabelecimentos comerciais no Pavuna estão sem receber refrigerantes há cerca de um ano.

 

Crime de receptação na mira da polícia

 

Para tentar inibir a atuação desses criminosos, a Delegacia de Roubos e Furtos de Cargas (DRFC) está voltando suas atenções para quem recebe a mercadoria roubada. “Fica muito difícil para a polícia identificar o mau comerciante. Ele compra 20 caixas de cigarro com nota fiscal, mas compra mais 80 de forma ilegal. Mas se um marginal não tiver um lugar para vender a carga rápida, vai começar a não valer a pena o roubo. É isso que a DRFC tenta fazer”, afirma o delegado Marcelo Martins, destacando que a especializada tem realizado diversas operações com o objetivo de coibir o crime de receptação.

 

De acordo com ele, a lei que pune esse tipo de crime deveria ser mais rigorosa para inibir o mau comerciante a comercializar produtos roubados. “Facilitaria muito o nosso trabalho se o Congresso Nacional pedisse para mudar a legislação. Se no exercício da atividade do comerciante fosse identificado alguma mercadoria roubada para a revenda, o alvará dele deveria ser automaticamente suspenso, cassado”.

 

Tecnologia e palestras para minimizar os prejuízos

 

Para evitar prejuízos, as empresas têm buscado diversas alternativas como o investimento em tecnologia e práticas diárias de segurança. “Tivemos uma carga de celular que foi praticamente toda recuperada, porque o empresário investiu em segurança. Ele colocou um ‘spy’ (rastreadores) misturado com a carga. A PM localizou em Manguinhos, no Centro da cidade, em Jacarepaguá, no Chapadão, e praticamente recuperou a carga toda. Quando o empresário investe em tecnologia de segurança fica muito mais difícil para o roubo”, afirma o delegado Marcelo Martins.

 

Segundo Paulo Robson Alves, presidente da Comissão de Transporte da Federação Nacional de Seguros Gerais, o gerenciamento de riscos tem se mostrado uma forma bastante eficaz das empresas se protegerem. “Não existe seguro que impeça o roubo da carga, mas existe maneira de tentar diminuir isso, como o tipo do caminhão que vai levar a mercadoria e a forma como será embalada podem contribuir para a proteção do produto”.

 

Desde o ano passado a Delegacia de Roubos e Furtos de Carga (DRFC) tem realizado palestras matinais em grandes empresas antes dos motoristas saírem dos galpões. “Isso aí tem uma dupla ação: mostrar para o motorista de bem que a DRFC está à disposição dele para passar informação e alertar o mau motorista que se ele não agir corretamente será punido”, afirmou o delegado Marcelo Martins, titular da especializada, ressaltando que a troca de informações entre a polícia e as empresas é fundamental para reverter os roubos.


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