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25 de Novembro de 2016 – 04h59 horas / CNT

O Código de Trânsito Brasileiro exige que os motoristas realizem exames periódicos de saúde. Contudo, segundo estudos da Abramet (Associação Brasileira de Medicina de Tráfego), esses somente o fazem a cada cinco anos, por ocasião da renovação da CNH (Carteira Nacional de Habilitação). “Trata-se de um período muito longo para profissionais que estão submetidos a múltiplos riscos, capazes de gerar doenças. São expostos diariamente a diversas condições de pouca higiene, má alimentação, locais inapropriados para parada, poluição sonora”, pondera o médico e diretor da Abramet, Dirceu Rodrigues Alves Júnior. Ele reitera que, além da falta de tempo, muitos motoristas profissionais, especialmente os autônomos, não têm acesso à assistência médica. “Isso faz com que eles negligenciem a própria saúde, aumentando sobremaneira as chances de se envolverem em acidentes de trânsito. ”

 

Segundo a última Pesquisa CNT Perfil dos Caminhoneiros, publicada neste ano, apenas 44,6% desses trabalhadores procuram profissional de saúde para prevenção; 20,5% procuram apenas quando os sintomas da doença se agravam; e 19,2% quando aparecem os primeiros sintomas. Desses, 36,7% relatam que não fazem exames preventivos; 47,2% relatam que realizam exames preventivos uma vez por ano e 12,3%, duas vezes por ano. Foram entrevistados 1.066 caminhoneiros em todo o país.

 

Nessa perspectiva, no decorrer dos 10 anos do Comandos de Saúde nas Rodovias, a partir dos dados coletados, foram identificados casos de hipertensão, obesidade, diabetes, triglicerídeos elevados, doenças visuais e auditivas e até mesmo casos soropositivos para o vírus HIV. Nos casos de doenças confirmadas, os profissionais são orientados por um médico a fazerem um acompanhamento mais detalhado em um posto ou hospital mais próximo. “É nesse ponto que reside a importância de dar continuidade ao projeto para que esses trabalhadores possam ter acesso mais fácil à prevenção de doenças em seu próprio local de trabalho, as rodovias”, emenda Nicole Goulart.

 

Segundo o policial rodoviário federal Daniel Rezende Bonfim, muitos acidentes são ocasionados por conta de problemas da saúde dos motoristas. “As condições de trabalho já não são fáceis, e se esse profissional não tiver um cuidado com a saúde, também pode comprometer a segurança da via. ” Bonfim lamenta, contudo, o fato de muitos desses profissionais, de posse do diagnóstico e do encaminhamento médico (alguns até com agendamento), não levarem a cabo o tratamento.  “Alguns têm a identificação de uma doença venérea, por exemplo. Às vezes, por vergonha, acabam não procurando assistência médica por falta de consciência. ”

 

O cirurgião-geral e médico da saúde da família Francisco Pereira, que já atuou no Comandos, destaca que, somente em poucas horas de atendimento, identificou dois casos de motoristas com crises hipertensivas, que tiveram de ser encaminhados imediatamente ao hospital. “Também detectamos vários casos de hipertensão leve, que nem sequer haviam sido identificados ainda. Pacientes que não usam medicação. Diabéticos que desconheciam essa condição. ” Ele explica que, em função das especificidades da profissão, a maior parte das pessoas é sedentária e, que por conta disso, apresenta esses casos.

 

A dermatologista Eliana Almeida Simões, que participa regularmente dos atendimentos do Comandos nas imediações do Distrito Federal, alerta para outro problema recorrente: a exposição excessiva solar sem a devida proteção. “A gente espera que cada trabalhador orientado seja um multiplicador na sua região, na sua família, no ambiente de trabalho, em relação à prevenção do câncer de pele. ” Ela informa que, entre os motoristas, principalmente os de pele mais clara, tem sido detectadas lesões pré-malignas na pele.

 

Na avaliação de todos os profissionais ouvidos pela reportagem, a oportunidade para realizar avaliações médicas que poderão evitar doenças graves no futuro ou buscar o tratamento para alguma doença identificada durante a realização dos exames é única e deve ser expandida.


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