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04 de Junho de 2018 – 16h52 horas / Estadão

Bilionário e ainda incompleto anel viário no entorno da cidade de São Paulo, o Rodoanel Mário Covas se tornou o trecho de maior incidência de ataques a motoristas nas rodovias paulistas.

 

São ações em que os criminosos atiram pedras contra o para-brisa dos veículos ou colocam grandes blocos na pista para obrigar o condutor a parar no acostamento e, assim, aproveitam a oportunidade para assaltá-lo.

 

São dezenas de casos que fazem do Rodoanel uma espécie de Faixa de Gaza desse tipo de crime, em especial nos trechos que passam pelos municípios de Carapicuíba e Osasco (oeste) e São Bernardo e Santo André (sul). Ambos têm favelas em seus entornos.

 

Dados da PM obtidos pela Folha revelam que, de janeiro de 2017 a março deste ano, foram registrados 34 ataques na via —o equivalente a 31% de todos os 111 roubos conhecidos pela polícia de São Paulo em 12 rodovias estaduais.

 

Para se ter uma ideia da dimensão desses números, a quantidade de roubos nos 123 km do Rodoanel é o dobro da verificada nos 173 km da rodovia Bandeirantes (17 casos).

 

A grave situação do Rodoanel levou o governo paulista a alterar, em outubro passado, o sistema de policiamento na rodovia. Na ocasião, criou uma companhia da Polícia Militar, com cerca de 240 homens, destinada exclusivamente a essa estrada.

 

Antes, o policiamento da pista era dividido entre três unidades, conforme a região do trecho. Até agora, porém, a mudança teve pouco efeito.

 

Os dados obtidos mostram que, até 18 de abril, o policiamento rodoviário havia registrado 28 ocorrências de ataques a pedradas em oito rodovias paulistas e, desse total, 15 delas tinham como endereço o Rodoanel. Só neste ano, mais da metade dos crimes (53%) ocorreram nessa via da Grande São Paulo.

 

Segundo policiais e especialistas, um dos gargalos do Rodoanel é o desvirtuamento da ideia original de ser uma via expressa sem ligação com a área urbana. Ocorre que, ao longo da rodovia, em especial nos trechos oeste e sul, há uma série de novas comunidades com fácil acesso à via. Muitas delas são moradias precárias erguidas em áreas invadidas.

 

Na divisa de Carapicuíba e Osasco, por exemplo, o Rodoanel permite acesso direto a bairros desses municípios, o que também foge da ideia original da rodovia, de ter ligação apenas com outras estradas.

 

“Ele [Rodoanel] passa em trechos onde tem as comunidades lindeiras. Claro, há cidadãos de bem, mas o crime também está ali e se aproveita de trechos do Rodoanel que são mais escuros”, disse o capitão Cláudio César Capelari, porta-voz da Polícia Militar Rodoviária de São Paulo.

 

Uma das consequências desse desvirtuamento é a implantação de passarelas. São desses locais que criminosos costumam atirar pedras, embora todas tenham telas de metal.

 

Para o consultor em engenharia Luiz Célio Bottura, ex-presidente da Dersa (empresa do governo do estado responsável por obras viárias), o ideal seria impedir a instalação de habitações ao longo da via, bem como fazer a retirada daquelas existentes. Agora, porém, não há saída, a não ser trabalhar na fiscalização.

 

“Falta a presença de fiscalização, da [polícia] Rodoviária e da concessionária. Se tiver carro da concessionária perto, ajuda, para ter movimentação”, afirma Bottura.

 

O porta-voz da Rodoviária diz que há um intenso trabalho de fiscalização com operações nos pontos de maior incidência do crime, incluindo a permanência de patrulhas 24 horas nesses pontos.

 

“A gente reforça o policial naquele local. Aí, dá certo ou o criminoso migra para outro local e a gente vai como gato e rato”, disse o capitão Capelari. “[Estamos colocando] Muita polícia, muita viatura, para inibir essa conduta”, disse.

 

A Polícia Rodoviária recomenda aos motoristas de carros atingidos por pedradas que não parem o veículo, se possível. “Se você passou em cima de algo num local ermo e se o veículo tem condições de prosseguir, mesmo que em uma velocidade reduzida, não pare. Tente prosseguir até uma base [da polícia].”

 

A polícia pede também para que os cidadãos façam boletins de ocorrência dos ataques. “O registro é importante para identificar o local e mobilizar o policiamento.”


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