Compartilhe
24 de Agosto de 2015 – 03h41 horas / Automotive Business

Sete dos maiores fornecedores da indústria automotiva e a associação dos fabricantes de autopeças, o Sindipeças, se uniram em um grupo autodenominado Frente Inovar-Auto, para apoiar a continuidade de uma política industrial direcionada ao setor. “O objetivo é propor soluções de apoio à evolução tecnológica e ao aumento da eficiência energética dos veículos”, explicou Ricardo Abreu, diretor de tecnologia da Mahle, empresa que desenvolve e fabrica componentes de motor e uma das apoiadoras da frente. Também integram o grupo Bosch, Borg Warner, Continental, Delphi, Honeywell e Umicore.

Falando em sua apresentação durante o 12º Fórum de Tecnologia de Motores Diesel, promovido esta semana pela SAE Brasil em Curitiba (PR), Abreu defendeu que a liberação da motorização diesel para veículos leves no Brasil é uma das soluções para melhorar a eficiência energética da frota nacional– hoje essa opção é vetada pela legislação, que só permite o uso de motores diesel para carros com tração 4×4 e veículos que transportam no mínimo uma tonelada de carga. “Não se pode falar em programa de eficiência energética sem incluir todas as opções que existem”, observou.

No mesmo evento, há dois anos, foi criada com o apoio das mesmas empresas e da SAE Brasil a Aliança Pró-Veículos Diesel, a Aprove Diesel, com o objetivo de desmitificar a imagem de “combustível poluidor”, divulgar as vantagens e apoiar a liberação do combustível para os leves. Até agora, contudo, o temor de falta de abastecimento suficiente no País e a diferença a menor de tributação sobre o diesel são as justificativas usadas pelo governo para manter a proibição. O grupo agora trabalha para convencer os gestores públicos que o preço mais alto da motorização seria um limitador natural para evitar a multiplicação de carros diesel, não havendo, portanto, pressão sobre o abastecimento ou tributação, que já seria mais alta no preço de aquisição do carro.

No entanto, Abreu destacou que a posição da Frente Inovar-Auto “não é incentivar só o uso de carros diesel, mas a adoção de diversas tecnologias que possam melhorar a eficiência energética dos veículos fabricados e vendidos no Brasil”. Nesse sentido, o engenheiro lembrou que atualmente alguns carros diesel mais modernos têm tecnologia que os tornam mais eficientes até do que elétricos híbridos com motor a gasolina.

“A introdução do diesel especialmente nos veículos leves maiores poderia ajudar a trazê-los mais facilmente para as metas de eficiência do Inovar-Auto”, afirmou Abreu, que exemplificou com o caso da Europa, onde a maioria dos carros a gasolina está acima da meta de emissão de 120 gramas de CO2 por quilômetro, enquanto quase a totalidade dos modelos diesel, que gastam menos combustível, estão dentro ou abaixo do limite.

O grupo também tenta antecipar quais seriam as próximas metas de eficiência energética propostas para o Brasil após 2017, quando termina o Inovar-Auto. Atualmente o objetivo médio que os fabricantes de veículos leves devem obrigatoriamente atingir, expresso em megajoule por quilômetro, é de 1,82 MJ/km para um carro de 1.121 kg (peso médio da frota), com redução de um ponto porcentual no IPI para a montadora que conseguir atingir 1,75 MJ/km e dois pontos para quem chegar a 1,68 MJ/km, o que equivale ao atual limite europeu de 120 g CO2/km.

Para Abreu, a tendência da legislação é que esse limite seja reduzido para 1,55 MJ/km em uma próxima etapa, seguindo de perto o modelo europeu. “O próximo nível já está estabelecido, só falta discutir é quando ele será adotado”, avalia. “Também é preciso considerar os biocombustíveis como solução para reduzir as emissões de CO2 do poço à roda. Etanol e biodiesel devem ser mais usados para isso.”

ADIAMENTO NAS METAS?

Recentemente, o ministro do Desenvolvimento, Armando Monteiro, declarou que o governo estaria disposto considerar o adiamento de metas impostas à indústria automotiva que pudessem aumentar os custos de produção em um momento de forte retração do mercado. Monteiro não se referiu diretamente às metas de eficiência energética ou aos dispêndios em pesquisa e desenvolvimento expressas no Inovar-Auto, porém esses são os objetivos mais onerosos à indústria no momento, e existem montadoras com maior dificuldade em cumprir a legislação. “Se isso de fato acontecer será um retrocesso, além uma punição às empresas que investiram para melhorar a eficiência dos veículos que fabricam”, avalia Abreu.

No mesmo evento em Curitiba, o representante do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC), afirmou que em seu setor não há qualquer orientação no sentido de prorrogar os objetivos do Inovar-Auto. “A legislação foi criada com metas, prazos e punições. Se em algum momento houver qualquer tipo de concessão a montadora simplesmente não trabalhará para cumprir. Dentro do ministério a ordem não é para flexibilizar. Se alguma montadora acredita nisso está apostando errado”, disse Paulo Henrique Beserra, coordenador-geral das indústrias do setor automotivo no MDIC.

Com relação ao processo movido contra o Brasil pela União Europeia na Organização Mundial do Comércio (OMC), questionando a legalidade do Inovar-Auto de acordo com as normas internacionais, Beserra disse que o atual programa poderá até ser modificado em função disso, mas a tendência é que sejam estendidas para além de 2017 as metas de eficiência energética e de investimento em pesquisa e desenvolvimento. “Ainda não está nada definido, mas poderemos incluir veículos diesel nas metas de eficiência”, revelou.

Sobre a adoção de um programa nacional de inspeção veicular, Beserra avalia que o tema “é muito complexo, pois exige mudança na legislação com votação de lei no Congresso Nacional, onde muitos deputados com quem conversamos são contra, por acreditarem que a inspeção pune os mais pobres, que têm carros mais antigos e correm o risco de ficar sem o seu bem”.

Já o programa de renovação de frota de caminhões e ônibus “não enfrenta nenhuma rejeição”, segundo Beserra. “Temos o plano bem desenhado, mas é difícil implantar nesse momento de restrição de verbas, pois passa pela concessão de crédito fiscal ou financiamento do BNDES”, disse.


voltar