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07 de Abril de 2014 – 01h19 horas / Fonte: Diário do Grande ABC/Fábio Munhoz

Projeto sob análise do governo do Estado visa desafogar congestionamentos no SAI (Sistema Anchieta-Imigrantes), principal ligação de caminhões de cargas com o Porto de Santos – maior terminal marítimo da América Latina. A proposta, desenvolvida pela empreiteira Contern, aponta para a construção de rodovia entre Ribeirão Pires e a Baixada Santista. A obra está orçada em cerca de R$ 14 bilhões.

 


A empresa, integrante do consórcio responsável pelos trechos Sul e Leste do Rodoanel, entregou no ano passado à Secretaria Estadual de Logística e Transportes uma declaração de manifestação de interesse pela execução da obra. O documento está em fase de avaliação, etapa que não tem data para conclusão.

 


O projeto recebeu o nome de ViaMar e sugere traçado de aproximadamente 36 quilômetros, ligando o acesso ao futuro Rodoanel Leste – na divisa entre Ribeirão Pires e Suzano – até a porção continental de Santos, próximo aos bairros Estuário e Saboó. Para mitigar os impactos ambientais na Serra do Mar, 22 quilômetros da via passarão por dentro de um túnel (leia abaixo).

 


Além da rodovia com três faixas de rolamento em cada sentido, o projeto também inclui ferrovia, dutos para transporte de líquidos e duas plataformas de logística, de acordo com o diretor de Engenharia da Contern, José Carlos Britto.

 


As plataformas – uma no Planalto e outra na Baixada – têm como objetivo funcionar como porto seco, onde os caminhões poderão descarregar os contêineres, reabastecer e iniciar o percurso de volta. A carga, então, seria colocada em trens e enviada ao terminal marítimo. “Com isso, trazemos para o Planalto diversos serviços que hoje só são feitos em Santos. Haverá ganhos em tempo, dinheiro e espaço do porto”, explica.

 


Atualmente, os caminhões só podem descer a serra pela Via Anchieta, estrada que, segundo especialistas ouvidos pelo Diário (leia ao lado), está saturada. “Em alguns casos, os motoristas têm de esperar até três dias no porto para descarregar”, acrescenta Britto. A agilização desse procedimento pode refletir, inclusive, em redução de preços finais de mercadorias. Isso porque mais entregas podem ser feitas em um mesmo espaço de tempo, diminuindo o custo operacional para as empresas.

 

Para que o empreendimento saia do papel, o Estado precisa aprovar o projeto e lançar chamamento público para que outras empresas interessadas na construção se apresentem e, então, iniciar processo de licitação. Caso outra companhia vença a concorrência, a Contern seria ressarcida pelo valor investido nos estudos. A Secretaria Estadual de Transportes e Logística confirma que o projeto está sob análise, mas não informa prazos.

 


Britto acredita que é possível iniciar o certame ainda neste ano. As obras, afirma o diretor, têm prazo estimado de cinco anos. Dos R$ 14 bilhões investidos, a Contern se propõe a aplicar R$ 4 bilhões. O restante seria injetado por Estado e União.

 


Especialistas apontam risco de colapso na Via Anchieta

 

 

Principal acesso ao Porto de Santos, a Rodovia Anchieta não tem mais condições de atender às necessidades do maior terminal marítimo da América Latina. Especialistas ouvidos pelo Diário salientam que, caso o porto aumente o volume de cargas transportadas, o SAI (Sistema Anchieta-Imigrantes) entrará em colapso.

 

 

O arquiteto e urbanista Wagner Ferreira, especialista em navegação de portos, afirma que o terminal de Santos tem capacidade para movimentar 200 milhões de toneladas de carga ao ano. “Mas esse volume todo não tem como chegar até lá. Dizer que o SAI não está saturado é não enxergar o problema”, avalia. No ano passado, a movimentação foi de aproximadamente 114 milhões de toneladas.

 

 

Ferreira elogia o fato de o projeto permitir que parte dos serviços hoje feitos em Santos possam ser transferidos para as plataformas de logística. “Dá para trazer toda a operação para o Planalto e aumentar a capacidade do porto”, comenta. O especialista acrescenta que a economia do Grande ABC será fortalecida em razão das empresas de logística que migrarão para a região.

 

 

O engenheiro Adriano Murgel Branco, ex-secretário estadual de Transportes, aponta para a redução nos custos operacionais, além da diminuição da poluição devido ao menor número de caminhões. A previsão é que o novo complexo possa transportar 4 milhões de toneladas ao ano, entre os modais rodoviário e ferroviário.

 

 

O turismo na Baixada Santista também pode ser fortalecido, na visão de Branco. “Para os usuários comuns, o maior benefício é que o Sistema Anchieta-Imigrantes sai do risco de colapso. Os automóveis terão vias mais livres e com menor risco de acidentes.” O especialista admite que ainda é difícil mensurar valores, mas estima que os retornos financeiros comecem a surgir dez anos depois da inauguração.

 

 

Via terá maior túnel rodoviário do País

 

 

Uma das soluções encontradas para diminuir ao máximo o impacto ambiental gerado pela implantação do Projeto ViaMar é a construção de um túnel de aproximadamente 22 quilômetros. Será a maior passagem subterrânea em uma estrada brasileira. Atualmente, a mais extensa fica na Rodovia dos Imigrantes, com 3,1 quilômetros.

 

 

O diretor de Engenharia da Contern, José Carlos Britto, informa que o túnel terá 16 metros de altura e será dividido em dois andares. O pavimento superior será ocupado pela rodovia, com três faixas de rolamento em cada sentido. O andar inferior terá ferrovia e dutos para o transporte de cargas líquidas, como combustíveis e suco de laranja. O engenheiro acrescenta que a via férrea – que terá intervalo aproximado entre trens de 29 minutos – também poderá ser utilizada por passageiros. O governo estadual, inclusive, tem planos para a construção de quatro trens regionais. Um deles ligará o Grande ABC a Santos.

 

 

Após o término do trecho subterrâneo, a via passará por cima da Rodovia Cônego Domênico Rangoni, próximo ao pedágio, e terminará na parte continental de Santos, já no entorno do terminal marítimo.

 

 

A estimativa é que a descida seja feita em cerca de 30 minutos por automóveis. Já a viagem de trem deve durar em torno de uma hora.

 

 

O projeto prevê movimentação diária de 6.000 caminhões e 17 mil carros de passeio ao dia. Na Anchieta, o volume diário médio gira em torno de 22,8 mil veículos, segundo a Secretaria Estadual de Logística e Transportes.


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