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03 de Junho de 2016 – 03h31 horas / Época Negócios

Que tal ir de São Paulo ao Rio de Janeiro em metade do tempo e pagando um terço do preço da ponte aérea? E se, além disso, a viagem fosse neutra em emissões de carbono e a infraestrutura pudesse ser montada em alguns meses?

 

Avião, barco, trem, ou ônibus, nenhum dos atuais modais de transporte é capaz dessa proeza, mas um novo sistema, batizado de Hyperloop, é o principal candidato para promover uma revolução desse calibre. O loop refere-se ao modo de conexão de dutos, sempre em voltas, em anéis, por onde trafegam cargas e passageiros, e o hyper, à possibilidade de andar a velocidades hipersônicas (acima de 5.220 km/h).

 

O conceito é simples: cápsulas de transporte são aceleradas magneticamente a até 1.200 quilômetros por hora, em um tubo despressurizado (quase vácuo). A ideia foi concebida por Elon Musk e engenheiros da SpaceX (a fábrica de foguetes de Musk) e da Tesla (sua indústria de carros elétricos). Eles publicaram em 2013 um documento com 70 páginas, explicando como o Hyperloop poderia funcionar. Ao anunciar o conceito, o projeto foi aberto para quem quisesse desenvolvê-lo.

 

A motivação era propor uma alternativa ao trem-bala, que seria construído entre São Francisco e Los Angeles (620 quilômetros), a um custo de US$ 60 bilhões, com quase uma década de prazo para construção (a viagem seria mais demorada do que de avião). Quando expôs a ideia, Musk disse que era possível implementar, na metade do tempo e a um décimo do custo, um meio de transporte duas vezes mais rápido, que utilizasse apenas energia renovável.

 

Logo após o lançamento da proposta, diversos grupos começaram a se organizar. Eles experimentaram conceitos e viabilizaram os primeiros protótipos. Duas startups concorrem para ver quem executaria o projeto em menor tempo – a Hyperloop Transportation Technologies (HTT), uma iniciativa colaborativa envolvendo centenas de pesquisadores e engenheiros, e a Hyperloop Tech (HTech), com sede e fábrica em Los Angeles. A HTT já constrói uma pista (ou um tubo) de teste em Quay Valley, na Califórnia. A HTech faz o mesmo no deserto de Nevada. As duas experiências devem estar em funcionamento este ano.

 

Uma competição promovida pela SpaceX para produzir cápsulas (ou pods) foi lançada em 2015. Ela atraiu mais de 700 propostas de diferentes universidades, e 20 delas foram selecionadas para testes ainda em 2016. No ritmo atual, não será surpresa se as primeiras aplicações comerciais do Hyperloop entrem em operação antes de 2020.

 

Mas essa é somente uma aplicação da tecnologia. Talvez a maior revolução esteja no transporte de cargas. Um contêiner poderia ser enviado da China para os Estados Unidos no mesmo dia por tubos submarinos, com custos menores do que o transporte marítimo.

 

Para avançarmos no objetivo de zerar as emissões de gases de efeito estufa em meados do século é fundamental nos livrarmos da dependência de combustíveis fósseis nos transportes. Os deslocamentos aéreos e de cargas representam mais de 5% das emissões globais, e permanecem como um enorme desafio a ser vencido. O Hyperloop pode ser a chave para alavancar a mudança necessária nesse campo.


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