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08 de Outubro de 2014 – 05h10 horas / Valor Econômico

Seis meses após uma balsa que transportava óleo de dendê no rio Moju, no Pará, ter derrubado parte de uma ponte de 500 metros na rodovia estadual PA-483, que liga as regiões sudeste e nordeste do Estado, os agricultores locais ainda sentem no bolso o aumento dos custos de transporte gerado pelo acidente, em mais um exemplo das deficiências da infraestrutura logística no Norte do país.

Com o problema, alguns produtores não conseguiram arcar com os gastos adicionais e simplesmente tiveram que deixar de escoar sua produção. O Movimento Pró-Logística, que monitora o imbróglio desde o início, calcula que, para contornar o problema, o frete cobrado subiu até 25% desde o mês de março.

A ponte se encontra nos arredores do município de Moju, distante 129 quilômetros da capital Belém, e faz parte do complexo rodoviário Alça Viária, que funciona como elo estratégico de escoamento de grãos do sul paraense em direção ao Porto Vila do Conde, em Barcarena, nordeste do Estado – onde já começaram a operar terminais portuários dos grupos americanos Bunge e ADM.

Com os investimentos feitos por essas e outras empresas na região, a porção sul do Pará passou a ser apontada como uma nova fronteira de destaque para a produção de soja e milho no país, principalmente em áreas já degradadas.

Os custos com o transporte rodoviário por causa do acidente encareceram porque, para contornarem o percurso da ponte Moju Cidade, os motoristas dos caminhões estão sendo obrigados a fazer desvios pela rodovia Belém-Brasília ou vias estaduais em condições precárias, como a PA-150, o que aumenta o percurso em mais de 100 quilômetros.

No Pará, o plantio começa em dezembro e a comercialização costuma ter início em março do ano seguinte. Mas, como houve o problema com a ponte, a comercialização foi prejudicada e até hoje há volumes remanescentes que precisam ser escoados.

Leonir Rossetto, sojicultor de Redenção, no sudeste paraense, e um dos pioneiros na produção da cultura no Estado, afirma que, com a queda da ponte, uma alternativa adotada foi transportar os carregamentos de soja para Porto Franco, em Tocantins.

Mas esse destino está a 560 quilômetros de Redenção e não é o caminho preferido dos produtores do Estado, pois de lá a produção ainda precisa seguir por ferrovia até o Porto de Itaqui, no Maranhão.

"Para levar minha soja a Barcarena, são 800 quilômetros, mas a vantagem é que não precisa sair do Estado do Pará", diz Rossetto. "E, como a ponte caiu, o frete cobrado subiu para entre R$ 160 e R$ 170 por tonelada, enquanto pagávamos entre R$ 130 e R$ 140 antes". Ele acrescenta que a alta do frete deverá elevar ainda mais o custo total dos produtores de soja e milho da região sul do Pará, que já subiu por causa do encarecimento dos insumos.

"Os produtores estão indignados com a ponte intransitável e alguns já se recusam a embarcar a soja, pois acham que não compensa o custo", diz Vanderlei Silva, presidente da Aprosoja no Pará.

O diretor-executivo do Movimento Pró-Logística, Edeon Vaz, afirma que, pelo andamento das obras, a previsão mais otimista é que a ponte Moju Cidade volte a ser liberada para tráfego em abril de 2015. "O Estado deveria acelerar a obra para concluí-la até março de 2015, o que causaria menos impacto aos produtores. Caso contrário, os custos altos de frete vão continuar", avalia.

Para Vaz, a opção logística mais eficiente para escoar a produção do sul do Pará – e até a do norte de Mato Grosso -, seria transportar a carga de caminhão até Marabá e de lá por barcaças pela Hidrovia Araguaia-Tocantins. O problema é que essa hidrovia ainda não está em operação.

A Secretaria de Transportes do Pará informa que a reconstrução da ponte já foi licitada e que as obras estão prestes a serem iniciadas. Segundo a secretaria, o término dos trabalhos ainda está previsto para dezembro, mas as chuvas tendem a adiar para fevereiro a conclusão das atividades de engenharia. Desde que a ponte foi parcialmente rompida, segundo o órgão, o governo local providenciou balsas para viabilizar o deslocamento de pessoas e veículos.

A Companhia de Navegação da Amazônia (CNA), responsável pela balsa que causou o acidente, se limitou a responder, por meio de sua assessoria de imprensa, que a reconstrução está sendo conduzida pelo governo do Pará.


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