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10 de Dezembro de 2014 – 02h13 horas / EM

Nos primeiros 30 dias de vigência das punições mais pesadas para ultrapassagens proibidas em todo o país, os agentes da Polícia Rodoviária Federal (PRF) flagraram quase 2,5 mil infrações do tipo nas rodovias federais que cortam Minas Gerais. O número é 18,3% menor do que a quantidade registrada em novembro de 2013, quando a PRF multou mais de 3 mil condutores por cometerem as infrações previstas em três artigos do Código de Trânsito Brasileiro (CTB). A queda dos números aparece mesmo sem uma estrutura específica de fiscalização montada exclusivamente para dar conta das mudanças do CTB. A lei foi modificada em 1º de novembro.
 

Por um lado caíram as ultrapassagens ignorando a faixa contínua, mas, por outro, subiram as multas por forçar a passagem entre veículos e também das ultrapassagens pelo acostamento . Para a PRF mineira, ainda é cedo para estabelecer relações entre os comportamentos antes e depois das mudanças, mas, em geral, os números refletem uma cautela maior dos motoristas. Na estrada, a população se divide. Enquanto alguns garantem que o desrespeito já diminuiu, outros dizem que o festival de imprudências continua dando as caras em cada curva.
 

A infração que mais contribui para esse tipo de desrespeito está prevista no artigo 203 do CTB – ultrapassar em faixa contínua dupla ou simples. Enquanto em novembro do ano passado foram 2.775 multas, no mesmo período de 2014 foram 2.208, queda de 20,5%. Nesse caso específico, o valor da multa passou de R$ 191,54 para R$ 957,70. Já o ato de forçar a passagem entre veículos que trafegam em sentidos opostos, previsto pelo artigo 191, teve movimento contrário e registrou mais que o dobro de infrações. Em novembro de 2013 foram 34 casos, no mesmo mês desse ano foram 75. A multa para esse tipo de conduta passou de R$ 191,54 para R$ 1.915,40.
 

No Km 439 da BR-381, em Ravena, distrito de Sabará, na Grande BH, a reportagem flagrou um exemplo claro de desrespeito que ainda persiste, mesmo com os altos valores das multas. Uma van rebocando uma motocicleta em uma carretinha não se preocupou em ultrapassar de uma vez uma moto e dois caminhões em um trecho de faixa contínua. O condutor também ignorou a placa de proibido ultrapassar, uma curva que tirava a visibilidade e um radar de 60 Km/h. Três quilômetros à frente, ainda em Ravena, o motorista de um carro de passeio, não satisfeito em desrespeitar a faixa dupla, jogou o carro para a terceira faixa na contramão, ameaçando a equipe de reportagem.
 

“Não adianta multar, mesmo com valor mais alto. Tem que duplicar as rodovias”, diz o caminhoneiro Wilmar Silvestrin, de 56 anos. “Continua do mesmo jeito. Se deixar, os carros pequenos passam até por baixo da gente”, completa. O empresário Rudiard Kipling, de 58, pensa diferente. Para ele, o comportamento dos infratores já deu sinais de mudança. “Não tenho visto muitas ultrapassagens perigosas, as pessoas estão ficando mais atentas com esse valor mais alto”, afirma. O comerciante Giuliano Faria, de 32, notou uma melhora, mas lembra que no caminho entre BH e Ipatinga, no Vale do Rio Doce, ainda presencia a imprudência. “Muitos carros ainda insistem em passar pela faixa dupla ou pelo acostamento”, diz ele.
 

Para o inspetor Bruno Raslan, chefe da delegacia Metropolitana da PRF em Minas, o comportamento dá sinais de estar mudando. “A primeira impressão é que a mudança surtiu um efeito positivo. As pessoas estão se arriscando menos por conta do valor maior das multas. Vamos continuar acompanhando de perto a situação para cruzar com o número de acidentes”, diz o policial. O inspetor Gledson Ferreira da Silva, que comanda os 234 quilômetros de pistas simples da delegacia de João Monlevade, faz duas observações. “Os policiais têm relatado uma conduta de mais responsabilidade nos pontos tradicionais de ultrapassagem proibida em nosso trecho. Mas ainda estamos presenciando muitos casos ao longo de nossos deslocamentos pelas rodovias 381 e 262”, afirma.
 

Desconhecimento
 

O inspetor Américo Cabral, que comanda a delegacia de Leopoldina, na Zona da Mata, cuja responsabilidade é de trechos das BRs 116, 267 e 356, diz já ser possível notar redução inclusive de acidentes. “As principais causas das batidas em nossa região são velocidade e as ultrapassagens. Porém, também percebemos que muitos motoristas ainda desconhecem as novas punições”, afirma Cabral. O inspetor Aristides Júnior, chefe do setor de Comunicação Social da PRF mineira, lembra que é necessário um intervalo maior para consolidar a realidade nas estradas depois do arrocho no valor das multas. “A partir de 12 de dezembro, quando começar a Operação Rodovida, vamos continuar insistindo nas ultrapassagens proibidas. A ideia é massificar cada vez mais a informação para que possamos ter um resultado contínuo. À medida que as multas começarem a chegar, também teremos um retorno positivo na prática”, finaliza.


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