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21 de Junho de 2018 – 17h14 horas / Anírio Neto

* por Anírio Neto

 

Você é empresário. Mais uma reunião, sua equipe o espera para discutir um tema importante.

 

Dos 6 presentes, tem você (A), tem aquele que faz estrela no papel (B), tem um com muita vontade de falar muita coisa (C), tem aquele que vai discordar de você (D), tem o que provocou a reunião (E) e tem um que tem a tendência de concordar com você (F), independente do que você vai dizer.

 

Ao abrir a reunião, você naturalmente passa o olhar por todos. Mas ao chegar no ponto crítico da reunião seu olhar fica mais direcionado aos dois últimos (E & F) na busca de apoio às suas afirmações, o que é totalmente natural.

 

Quando você termina de contextualizar o problema, espera que seus colaboradores comecem a relacionar as possíveis soluções. Mas o (B) faz questão de repetir o problema com outras palavras só para se afirmar e dizer que está por dentro do que se passa. Claro que isso irrita a todos, mas ninguém fala nada.

 

Depois de alguns segundos de silêncio, o (C), desembesta a falar. Fala sobre tudo e todos. Saudoso, lembra até dos primeiros dias da empresa, fala sobre como era bom o passado e como os negócios estão diferentes hoje. Mas depois de 10 min falando, não deu uma sugestão.

 

Claro que você, o empresário, que não tem tempo a perder, retoma a fala. Começa a dar sugestões sobre como o problema deveria ser resolvido, pois é isto que se espera de uma reunião com tantas pessoas importantes reunidas.

 

Mas antes de você terminar e mais que rapidamente, o (E) colabora dizendo que já tinha comentado isso, que era esta era exatamente a visão dele, mas não teve apoio das outras áreas. Então, o (F) que precisa cumprir seu papel diz que lhe parece uma solução lógica. Você pensa … como lógica se nem completei o raciocínio …

 

Você retoma a fala e finalmente conclui. Como já tem o apoio de 2, automaticamente os (B) e (C) entram no efeito manada, e concordam com a única alternativa dada, e o pior, dada por você. Se fosse para você resolver o problema, não deveria ter reunido o grupo.

 

O (D), o único que não falou nada até agora, mas o único que realmente prestou atenção e estudou o caso antes da reunião, se manifesta e diz "… eu discordo, isso não vai resolver, só vai adiar …". Então, educadamente, o grupo deixa o (D) falar, mas com todos já contrariados por ele ter discordado. Somente após esta intervenção do (D) é que começa o verdadeiro debate, e conclusões começam a acontecer até você chegar a um veredicto e encerrar a reunião.

 

Algumas reflexões que gostaria de provocar com esta estória que acontece todos os dias nas empresas de transporte rodoviário de cargas:

 

– Você paga funcionários para concordarem com você?

– Quando um colaborador discorda de sua opinião, ele é bem visto ou já está marcado?
– Você contrata pessoas inteligentes e diz a elas o que devem fazer?
– Para você, delegar é confiar totalmente ou simplesmente uma forma de dividir as tarefas?
– Ter pessoas que gostam de você a sua volta é bom, mas elas realmente lhe dizem a verdade ou receiam lhe deixar triste com uma notícia ruim?
– Se tivesse que dispensar 1 dos colaboradores que participaram da reunião, qual você escolheria?

 

*Anírio Neto é Diretor Técnico de Tecnologia da Informação do SETCESP, coordenador do Laboratório SETCESP de Inovação e tem MBA em Tecnologia da Informação e em Administração.


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