A maior ponte do mundo, com 165 quilômetros de extensão, levou quatro anos para ser construída na China. Uma cidade inteira se ergueu do nada em três anos e meio para virar capital do Brasil em 1960. No Rio Grande do Sul, a duplicação de 22 quilômetros de uma rodovia vai completar uma década sem conclusão.
Como as obras da ERS-118 entre Sapucaia do Sul e Gravataí estão paradas desde outubro e sem prazo para serem retomadas, o Departamento Autônomo de Estradas de Rodagem (Daer) já descartou a previsão do governo anterior de terminar o serviço — iniciado em 2006 — ainda neste ano.
Até agora, foram implantados 10,9 quilômetros de pista nova de concreto — média de pouco mais de um quilômetro por ano —, mas a pista antiga não começou a ser restaurada. Como resultado, os motoristas enfrentam desvios, trechos de asfalto irregular e buracos. As explicações para a lentidão do projeto incluem falta de dinheiro e demora na remoção de casas e estabelecimentos comerciais no trajeto da rodovia.
Em razão da letargia, alguns terrenos que já haviam sido liberados para dar lugar ao leito de uma nova pista voltaram a ser ocupados por moradores e comerciantes. Proprietários de uma revenda de autopeças, Everton Trindade, 38 anos, e Fábio Trindade, 36, desocuparam há cerca de um ano uma faixa de aproximadamente 10 metros à margem da rodovia.
Removeram as carcaças de automóveis e chegaram a implantar as colunas para uma nova cerca, mais recuada, para dar espaço à nova estrada. Como ela não veio, os carros velhos voltaram para a beira da ERS, e a construção da cerca nova foi interrompida.
— Foi na Páscoa do ano passado que alguém passou por aqui para falar com a gente pela última vez. Como nada aconteceu, ocupamos o espaço de novo – argumenta Éverton, garantindo que volta a liberar a área se necessário.
Em outro ponto, três casebres foram reerguidos e se encontram novamente em processo de reintegração de posse. A maior parte das áreas já liberadas para a duplicação, porém, permanece vazia. Outros 200 terrenos de comércios e casas ainda estão em processo de desapropriação.
A falta de dinheiro, que diminuiu o ritmo da obra ainda no ano passado até fazê-la parar, é outro nó. Em razão da escassez financeira, no momento não há nem prazo exato para a retomada ou o fim dos trabalhos. Segundo o diretor-geral do Daer, Ricardo Nuñez, é preciso primeiro verificar quanto dinheiro o Piratini terá disponível e, então, definir o que será feito e quando. Segundo Nuñez, "a meta é concluir a duplicação neste governo".
— Estamos fazendo um levantamento para entender as dificuldades, para apresentar ao governador e ver com quanto recurso poderemos contar e o que poderemos executar neste ano e nos próximos três — sustenta o diretor do Daer.
O valor já gasto na duplicação, que foi projetada pela primeira vez em 1996, chega a R$ 65,9 milhões. Os valores originais previstos nos contratos de cada um dos três trechos licitados separadamente — o que também complica a uniformidade da duplicação — somam R$ 127,6 milhões. Como eles foram assinados entre 2006 e 2012 com previsão de reajustes, o valor final já supera os R$ 200 milhões.
O trecho mais adiantado é o de Gravataí, e o mais atrasado, o de Sapucaia do Sul. Em todos eles, falta ainda concluir seis viadutos ou passagens, deslocamentos de postes de energia e o recuo do cemitério de Sapucaia.
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