PIB de serviços será negativo no 1º trimestre, estima FGV
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06 de Abril de 2015 – 12h23 horas / Agência Estado

Os serviços fecharam o primeiro trimestre de 2015 com forte deterioração na confiança, o que antecipa um resultado negativo para o Produto Interno Bruto (PIB) da atividade no período, afirmou nesta quarta-feira (1º) o economista Silvio Sales, consultor da Fundação Getulio Vargas (FGV). Em março, o Índice de Confiança de Serviços (ICS) recuou 12,1%, para o menor nível da série histórica, iniciada em junho de 2008. Diante do cenário os serviços podem ter até uma retração no saldo de todo este ano, após terem registrado em 2014 o pior desempenho em 19 anos (alta de 0,7%). "Consideramos que dificilmente se escapará de uma queda no primeiro trimestre", afirmou Sales. "Em 2015, nada garante que os serviços não venham no negativo", acrescentou.

O tombo na confiança em março deu continuidade às quedas observadas em janeiro (-2,0%) e fevereiro (-5,4%). Como saldo, a confiança caiu 9,1% no trimestre ante os últimos três meses de 2014. No mês passado, a intensificação pode ser explicada pelas manifestações anti e pró-governo e pela paralisação dos caminhoneiros. Esses fatores se somaram aos efeitos da desaceleração da indústria sobre os serviços profissionais e do desaquecimento da demanda das famílias.

O nível de pessimismo é maior do que no auge da crise internacional, entre 2008 e 2009. "A dimensão dessa queda e o espalhamento são sinais claros de que houve piora na percepção do setor sobre o andamento dos negócios", disse Sales. O aprofundamento é mais intenso nos serviços prestados às empresas e nos serviços de informação, segundo a FGV. "Como a indústria vem aprofundando cada vez mais e agora recentemente o comércio começou a mostrar desaceleração, é possível que haja cortes nesses que são considerados serviços intermediários", avaliou o consultor.

Por enquanto, as expectativas não sinalizam recuperação à frente. O índice futuro recuou 10,7% apenas em março. "Essa queda não deixa sinal de que haverá recuperação. Pode haver oportunidade de estabilização desse fundo do poço em abril, mas sem que haja recuperação", afirmou Sales.

Emprego

De acordo com a FGV, a desaceleração no setor de serviços deve atingir em cheio o mercado de trabalho do setor, que há anos vem absorvendo grande parte da mão de obra no País e se firmou como o maior empregador. A intenção de contratar recuou 7,3% em março ante fevereiro, para 86,8 pontos, o que indica maior propensão dos empresários em dispensar trabalhadores.

Em janeiro, a intenção de contratar já havia caído 6,3%, com nova queda em fevereiro (-7,0%), sempre em relação ao mês imediatamente anterior. Com mais um recuo em março, a parcela dos empresários que pretendem demitir nos próximos três meses atingiu 22,9%, um máximo histórico na série iniciada em junho de 2008.
Nos serviços prestados às famílias, a situação é ainda mais delicada. O indicador está em 81,6 pontos, o que mostra tendência ainda maior a demissões. "Esses serviços dependem ainda mais de emprego do que a média relativa do setor. Por outro lado, esse trabalhador é o mais exposto, o mais frágil numa situação adversa", afirmou Sales.

Entre os que apontam demanda insuficiente, o setor de alojamento bateu o recorde de 60,6% de menções a esse tipo de problema. Segundo Sales, a demanda arrefecida deve ser o principal peso na decisão de dispensar trabalhadores.
Antes, os serviços prestados às famílias ainda enfrentavam a concorrência de outros setores na hora de buscar mão de obra. Agora, com o desaquecimento geral da economia, Sales considera que a reposição de mão de obra se tornou mais fácil. Isso contribui para diminuir a relutância dos empresários em dispensar trabalhadores experientes.

A queda na confiança dos serviços em março foi empurrada, entre outros fatores, pela menor intenção de contratar. Além disso, três a cada quatro empresários citaram o desempenho geral da economia como uma influência negativa aos negócios (76,7%). Na sequência, aparece o ambiente político (48,5%).

As dúvidas sobre a real disposição do Palácio do Planalto em colocar o ajuste fiscal em prática e as próprias dificuldades em conquistar a aprovação do Congresso Nacional para as medidas podem ter influenciado esse resultado, apontou Sales. Esses problemas superaram os problemas relacionados ao abastecimento de energia (9,3%) e de água (6,7%).


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