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17 de Julho de 2015 – 04h51 horas / Zero Hora

O que um trecho de 2,8 quilômetros de asfalto suspenso sobre uma lagoa distante 160 quilômetros do Rio Grande do Sul tem a ver com o smartphone que um gaúcho compra no shopping ou com a qualidade de vida de uma família de Porto Alegre? Ao que se projeta com a inauguração da Ponte Anita Garibaldi, em Laguna (SC), marcada para hoje, muito.

A cerimônia, que terá a presença da presidente Dilma Rousseff, deve ocorrer por volta do meio-dia – também será aberto o Túnel do Formigão, em Tubarão. Anunciada pelo então presidente Lula em 2004, prometida para 2010 e adiada inúmeras vezes até começar a sair do papel, em 2008, a estrutura promete afrouxar o trânsito para turistas gaúchos que buscam as cristalinas praias catarinenses no verão e baratear o custo de produtos que venham pela BR-101 de São Paulo até lojas e supermercados de Porto Alegre.

– Hoje, o preço desses produtos é esticado em razão do gasto de combustível e das horas perdidas pelos caminhoneiros nas filas em Laguna. Eliminando esse gargalo, o custo cai e pode reduzir também o valor de etiqueta – explica Victor Sant’Ana, economista da Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL) em Porto Alegre.

De acordo com a Fundação Dom Cabral, escola de negócios brasileira, o transporte aumenta em cerca de 11% o preço de mercadorias no Brasil. Hoje, um caminhão que sai de São Paulo para Porto Alegre abarrotado de eletrônicos ou alimentos industrializados viaja por 28 horas. Com o novo trecho, o tempo pode cair para 26 horas.

– Se você calcular todas as viagens que são feitas por dia, multiplicar pelo número de dias no mês e no ano, perceberá que há uma economia significativa no frete – explica Paulo Menzel, especialista em logística e infraestrutura.

O ganho de eficiência – ou seja, redução de tempo e custos – para o transporte de mercadorias será de quase 8% após a inauguração. No entanto, Menzel evita estimar como isso impactará no preço de produtos e no caixa das empresas, em razão das peculiaridades nos acordos de frete e na frequência das viagens. As transportadoras devem aproveitar para recuperar suas próprias margens. O ganho de tempo será maior quando outros gargalos da BR-101 forem resolvidos, como a ponte Cavalcanti, em Tubarão, ainda em construção, e os túneis do Morro dos Cavalos, em Palhoça, ainda nem licitados. Esses são os últimos grandes entraves para que uma viagem de Porto Alegre até São Paulo caia para 18 horas.

Bom para os exportadores

Entidades empresariais gaúchas ainda não calcularam o impacto da inauguração no varejo. No campo do turismo, a expectativa do governo de SC é de que o número de visitantes gaúchos cresça de 10% a 15% no próximo verão. É um batalhão que, só de pensar nas cinco horas parado no antigo acesso a Laguna, prefere ficar nas praias para cá do Mampituba em feriadões ou no Carnaval, por exemplo. Em janeiro e fevereiro de 2013 – dado consolidado sobre o verão no Estado vizinho –, 717 mil gaúchos viajaram a turismo a SC. Se a expectativa dos catarinenses se confirmar, neste ano serão mais de 820 mil.

– Além de incrementar o número de visitantes, a Ponte de Laguna é também um atrativo à parte ao turista – celebra o secretário de Turismo, Cultura e Esporte de SC, Filipe Mello.

Os catarinenses também preveem mais movimento no Porto de Imbituba, 40 quilômetros ao norte de Laguna. Na opinião do presidente do porto, Rogério Pupo, o terminal ganha força como alternativa para envio rápido do que for produzido no Nordeste e na Serra do Rio Grande do Sul. Imbituba é quase 100 quilômetros mais próximo de Caxias do Sul do que o Porto de Rio Grande, por exemplo.

– O efeito deve ser sentido efetivamente a partir de 2016 – diz Rupo.

Estudo da Universidade do Sul de SC estimou perda de R$ 32 bilhões à economia local de 2005 a 2009 em razão da falta de uma via de escoamento rápido de mercadorias aos portos.

A indústria cerâmica de Criciúma, por exemplo, anda eufórica. Como escoam 95% de sua produção pela BR-101, os fabricantes estimam que o frete ao valioso mercado paulista caia de 14 para nove horas, encorajando outras empresas a investirem na região.


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