Compartilhe
06 de Outubro de 2015 – 03h37 horas / Século Diário

Projeção do Centro Brasileiro de Estudos em Ecologia de Estradas (CBEE), da Universidade Federal de Lavras (MG), aponta que 15 animais são mortos por segundo nas rodovias do País, o equivalente a 1,3 milhão por dia e até 475 milhões por ano. Os números foram publicados em matéria da BBC Brasil, que destacou os casos registrados no trecho da BR 101 no norte do Espírito Santo.

O atual cenário coloca os atropelamentos como a principal causa de morte de bichos silvestres, superando a caça ilegal, desmatamento e poluição, como apontam especialistas entrevistados na matéria.

Quem puxa a lista, afirmam, são os pequenos vertebrados, como sapos, cobras e aves de menor porte – respondem por 90% do massacre, ou 430 milhões de bichos. O restante se divide em animais de médio porte (macacos, gambás), com 40 milhões, e de grande porte (como antas, lobos e onças), com cinco milhões.

A BBC relembra os atropelamentos registrados no Estado e a luta da entidade Últimos Refúgios, que debate alternativas para impedir que a lista de mortes aumente. Entre o casos citados, estão o atropelamento de uma anta (maior mamífero terrestre brasileiro) na margem da pista e de uma onça-pintada, além da fêmea adulta de harpia, a maior ave de rapina das Américas, encontrada no trecho da rodovia debilitada por fraturas e hematomas.

Ao jornal, os especialistas ressaltam que a situação é o resultado natural para um país que desconsiderou os bichos ao planejar as rodovias e ainda dá os primeiros passos na adoção de medidas para minimizar os impactos das vias.

"Está acontecendo uma desgraça total e não temos tempo nem de estudar o que ocorre", disse à BBC Brasil Áureo Banhos, professor do departamento de biologia da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes).

A matéria informa que Banhos coordena um time que monitora os atropelamentos no trecho de 25 km da BR-101 que corta uma das manchas verdes mais intactas do país. É um mosaico de 500 km² (ou um terço da cidade de São Paulo) de unidades de conservação rasgado pela pista única da via.

Ele faz um alerta à BBC: das 70 espécies de morcegos identificadas na região, 47 já foram atropeladas na estrada – e uma delas era desconhecida da ciência até então. Ao todo, 165 espécies de diferentes animais perderam a vida por ali (10 anfíbios, 21 répteis, 63 aves e 71 mamíferos) – são 50 mortes por dia apenas nesse ramo da rodovia, ou 20 mil por ano.

A matéria informa ainda que essa floresta integra as reservas de mata atlântica da Costa do Descobrimento, patrimônio natural da humanidade desde 1999. Por ser um raro fragmento contínuo de mata, é o último refúgio na região para várias espécies ameaçadas, como a anta, a onça-pintada, o tatu-canastra e a harpia.

“A situação da BR-101 no Espírito Santo – que ainda enfrenta a perspectiva de duplicação até 2025 – é uma amostra aguda de um problema nacional. São mais de 15,5 mil km de estradas atravessando áreas federais de conservação”, destaca a publicação.

Cenário alarmante

O trecho da BR 101 no Estado em Sooretama tem 25 quilômetros e é cortado pela Reserva Biológica de Sooretama e a Reserva Natural do Parque da Vale, e também duas áreas menores, as Reservas Particulares do Patrimônio Natural Mutum-Preto e Recanto das Antas.

A ampliação e duplicação da BR 101 é motivo de preocupação para entidades ambientalistas, porque irá agravar os impactos.

O elevado índice de casos resultou em mobilização do Ministério Público Federal (MPF-ES), movimentos sociais e órgãos responsáveis, para a construção de um modelo eficaz de combate à mortandade da fauna local. O MPF tem um procedimento administrativo na Procuradoria da República em Linhares, para acompanhar e fiscalizar a regularidade ambiental das obras da rodovia no norte do Estado.

Entre as medidas emergenciais apresentadas para tentar evitar que a situação se perpetue, estão a redução da velocidade dos veículos de 60km/h para 25km/h na região das reservas; a instalação de radares inteligentes; a desobstrução dos túneis de drenagem de água, que podem servir como passagem da fauna; o cercamento da via de forma direcional para os túneis; e a promoção de ações de sensibilização dos usuários.

Já uma petição feita via Avaaz, a rede mundial que promove mobilização para problemas enfrentados pela comunidade, defende um traçado alternativo para evitar que a BR-101 passe no meio da Rebio de Sooretama.


voltar