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14 de Fevereiro de 2014 – 02h29 horas / A Tribuna

Os problemas no escoamento da safra agrícola pelo Porto de Santos começaram antes mesmo do aumento do movimento de caminhões com grãos e açúcar em direção ao cais santista, o que deve ocorrer a partir do próximo sábado. Dos 45 mil caminhões que chegaram ao complexo marítimo na semana passada, 7,3 mil estavam sem agendamento prévio para acesso aos terminais. Isto significa dizer que um em cada seis veículos descumpriu as normas estabelecidas pela Companhia Docas do Estado de São Paulo (Codesp) para este período da vinda da safra. Até agora, porém, nenhuma instalação foi punida.

 

O escoamento da safra até os portos, sem a formação de congestionamentos nas estradas de acesso aos terminais, passou a ser uma prioridade do Governo no final do ano passado. Foi quando técnicos de diversas áreas da União se reuniram para minimizar os impactos desse tráfego, que, no ano passado, formou megafilas nas rodovias que atendem o cais santista e interrompeu a circulação de pessoas e cargas na região. Uma das principais regras estipuladas foi a necessidade de agendamento para todos os veículos que seguem em direção ao cais santista.

 

Para conscientizar os operadores portuários dessas medidas, o ministro dos Portos, Antonio Henrique Silveira mostrou empenho e se deslocou até Santos para pedir a colaboração dos envolvidos. Mas, de acordo com os números, a regra já está sendo ignorada por vários terminais.

 

A Tribuna teve acesso ao primeiro levantamento semanal de movimento de caminhões feito pelo Governo. Ele aponta que 45.547 caminhões chegaram ao cais santista entre os dias 31 de janeiro e a última sexta-feira, dia 7. No entanto, 16% deles não atenderam às exigências da Codesp e estavam sem o agendamento prévio para o acesso aos terminais.

 

Mesmo com o descontrole, não se formaram grandes congestionamentos, mas o fato é explicado pelo baixo volume de caminhões neste período. O movimento será maior nas próximas semanas e, consequentemente, há o risco de os impactos serem os mesmos do ano passado.

 

No último dia 31, quando começou o acompanhamento dos veículos, um em cada cinco caminhões não estava agendado. Um total de 1.275 veículos chegaram ao cais santista sem o agendamento. A situação se repetiu em outros dias, conforme a tabela ao lado.

 

Nesta quarta-feira, o caminhoneiro Cleiton de Souza Mota era um dos que aguardavam para descarregar soja em uma fila formada na Avenida Mário Covas. Ele não conseguia prever o horário de entrada no terminal ADM do Brasil, no Corredor de Exportação, na Margem Direita do Porto, porque simplesmente não tinha noção de quando a operação seria concluída. “Agendamento? Que agendamento? Na hora que der, a gente entra. Não tenho papel nenhum que diz o horário de entrar. Passei pelo pátio, mas ele não suporta e solta os caminhões e aí só resta ficar aqui”, afirmou.

 

Já o caminhoneiro João Carlos da Silva, que também não tinha agendamento, passou 18 horas na fila para conseguir descarregar. “Saí do pátio e desci. Cheguei em Santos às 23 horas de segunda e só fui embora às 18 horas de terça. É mole?”.

 

Atrasos
Os problemas não acabam quando o agendamento é efetuado e o caminhoneiro segue em direção ao Porto de Santos. É comum que os terminais não respeitem os horários de entrada dos veículos e eles são obrigados a aguardar por longos períodos até o momento da descarga.

 

Foi o que aconteceu com o caminhoneiro Gilberto Peres que, apesar de estar programado para descarregar às 15 horas da última terça-feira, ontem já somava 17 horas de atraso. “Fiquei 14 horas no pátio, mas nós sabemos que antes de completar 24 horas, eles nos mandam descer para não virar a estadia. Aí, o resultado é ficar aqui, sem banheiro e sem comida”.

 

Todos os caminhoneiros entrevistados pela Reportagem afirmam que não foram parados durante o trajeto até o cais para a conferência do agendamento. Essa fiscalização também foi anunciada pelo Governo como uma forma de evitar que os veículos cheguem ao cais santista sem um horário definido para a entrada nas instalações.


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