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10 de Novembro de 2016 – 05h35 horas / A Tribuna

Março de 2018. Este é o prazo final estimado pelo Estado para a abertura ao tráfego de veículos no Trecho Norte do Rodoanel de São Paulo e, assim, concluir o anel viário da Região Metropolitana. A data estabelece um atraso de dois anos da previsão inicial e é consequência da judicialização de 94% das áreas de desapropriação ao longo da via.

 

A Desenvolvimento Rodoviário S.A. (Dersa) é a responsável pelo projeto e execução dos 44 quilômetros da pista que interliga os trechos Oeste e Leste. A estatal tinha o objetivo de entregar a obra ainda este ano, mas justificou o atraso pelo excesso de processos judiciais e pela quantidade de ocupações irregulares não previstas.

 

Ao todo, 592 imóveis foram desapropriados ao longo do Trecho Norte – inicialmente, o Estado previa retirar e indenizar até 2,7 mil propriedades. A diferença desse número, entretanto, está nas áreas consideradas de invasão, onde 4.129 famílias – ante 1,3 mil previstas – não provaram o real pertencimento da área onde viviam. Das famílias em ocupação irregular, 1.943 optaram pelo recebimento de unidade habitacional e outras 2.186, pela indenização.

 

Encarecimento

 

Segundo o presidente da Dersa, Laurence Casagrande Lourenço, além do atraso, uma das consequências é o encarecimento do empreendimento. Ele é composto por compensações ambientais, desapropriações, reassentamentos, interferências, projetos, além de supervisão, gerenciamento, comunicação e, também, as obras.

 

O Estado previa gastar R$ 6,5 bilhões, mas hoje as planilhas já atingem R$ 8,1 bilhões.[/TEXTO][TEXTO] O aumento em mais de 24% no valor do empreendimento e de 4,1% nos gastos com a obra despertou suspeitas de superfaturamento. Por isso, o Trecho Norte é alvo de, pelo menos, seis investigações que envolvem auditorias internas, Polícia Federal, Ministério Público e até o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) – um dos financiadores.

 

Em um dos casos, é apurada a denúncia de um ex-funcionário da Dersa sobre o incremento de mais de R$ 150 milhões no pagamento de empreiteiras. Ele apresentou supostas provas de irregularidades na execução de projetos. Laurence nega desvios e justifica o aumento nos gastos pelas dificuldades encontradas com a obra já iniciada.

 

Em paralelo, outra investigação apura possíveis desvios nos processos de desapropriação na área de Guarulhos, no qual o Estado seria a “vítima”. “Dos R$ 2,5 bilhões destinados (ao pagamento dessas áreas), R$ 1,3 bilhão é fraudulento”, afirma. Ele diz que denúncias foram apresentadas à corregedoria do judiciário.

 

Anel viário

 

O Trecho Norte será interligado ao Rodoanel em março de 2018, mas somente em novembro os 3,6 quilômetros da alça que o ligará ao Aeroporto de Guarulhos ficará pronta. Ao todo, quatro consórcios e empresas se dividem nos seis lotes com frentes de trabalhos distintas. São 4.315 funcionários atuando diretamente nas obras.

 

Após dois anos, A Tribuna voltou a percorrer o Lote 2 (4,8 quilômetros), considerado o mais adiantado. Dois túneis, que juntos somam um quilômetro de extensão, já foram abertos. Os seis viadutos e as duas pontes também foram erguidos e hoje passam por acabamentos, como a construção de muretas de proteção e aplicação de asfalto.

 

As projeções indicam que todo o Trecho Norte receberá um tráfego médio de 70 mil automóveis e 44,3 mil caminhões por dia. Assim como os demais, ele será administrado pela iniciativa privada, por meio de concessão. A exploração, entretanto, deverá ser decidida até o próximo ano, por licitação.


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