Roubo de carga: Acontece nas melhores rodovias
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21 de Julho de 2016 – 04h51 horas / Gazeta Mercantil Experience

O roubo de cargas caiu 9,3% no primeiro trimestre deste ano nas estradas paulistas. Mas continua sendo um dos grandes tormentos para empresas transportadoras e motoristas, em especial na região metropolitana de São Paulo, que tem as melhores estradas do país, onde ocorre a maior parte dos assaltos. No total foram registradas 2.152 ocorrências em todo o estado, 220 casos a menos do que no mesmo período do ano passado. Mas o volume ainda demonstra que a modalidade de crime tornou-se uma das preferidas das quadrilhas, que reduziram bastante outras categorias de assaltos, como a bancos – com 28 casos no estado no trimestre.

 

Para o Diretor de Novos Negócios da Braspress, uma das grandes transportadoras do país, Tayguara Helou, também presidente do SETCESP (Sindicato das Empresas Transportadoras do Estado de São Paulo), o roubo de cargas está entre os cinco principais problemas do setor (ao lado de pedágio caro, rodovias ruins, impostos e custos trabalhistas). “Só nos últimos 12 meses, o volume de roubos de carga, que ocorre em sua a maior parte em São Paulo, chegou ao total de R$ 1,5 bilhão. O pior é que os produtos roubados são vendidos por aí normalmente. É preciso que o governo faça alguma coisa para estancar isso”, reclama Helou.

 

Questionada pela GME, a Secretaria de Segurança pública respondeu em nota que “vem desenvolvendo série de medidas para combater os roubos de carga no Estado”. Informa ainda que “foi implantado um sistema de georreferenciamento das áreas em que ocorrem os crimes, locais onde as cargas são recuperadas e banco digital de imagens de presos envolvidos”.

 

A Secretaria explica também que está fazendo pente fino em todas as empresas de varejo para que elas demonstrem a origem dos produtos que vendem. Foi solicitado, por exemplo, que os varejistas tenham sempre à disposição da fiscalização as notas fiscais de compra de telefones celulares – um dos produtos preferidos dos ladrões de carga — contendo os respectivos códigos de identificação (IMEIs) de cada aparelho. Com isso, os smartphones serão inutilizados imediatamente após a ocorrência e não poderão voltar ao mercado vendidos pelos receptadores. “Essas providências fizeram o volume de roubo de cargas cair 6,5% nos quatro primeiros meses deste ano, em comparação com o mesmo período de 2015”.

 

Operações da polícia civil nessa modalidade de crime organizado conseguiram desbaratar algumas grandes quadrilhas. Como em maio, quando foram cumpridos 18 mandados de prisão contra um bando acusado de ser responsável por pelo menos dez ataques a caminhões com cargas valiosas.

 

Segundo a polícia, a quadrilha – que teve integrantes presos na capital, Guarulhos e Mogi das Cruzes — atuava com armamento pesado e equipamentos sofisticados, como bloqueadores de sinais de GPS, para evitar que localizadores das empresas e da polícia encontrassem os veículos roubados, até que a carga fosse transferida para outros veículos.

 

Para o presidente de outra grande empresa de transportes, a Jamef, Adriano Depentor, as quadrilhas especializadas conseguem muitas vezes driblar a tecnologia de localização de caminhões roubados, o que acaba por dificultar a ação da própria polícia.

 

“Temos hoje 200% de nossa frota rastreada, 25% dela com dualidade – e alguns veículos com até três chips. Mas os ladrões estão cada vez mais equipados e rápidos”, diz Depentor. Depois de transferir a carga para caminhões próprios, o veículo roubado é deixado já sem os bloqueadores de GPS e só então acabam sendo localizados.

 

Para ele, a melhor medida é criar penas pesadas para o receptador. “Quando uma quadrilha rouba quatro carretas com 16 mil aparelhos de TV, isso já tem um comprador definido. É preciso que o poder público seja mais enérgico para identificar quem são e fazer o que se faz na Argentina. Lá a loja que é flagrada com produto de roubo tem a inscrição de funcionamento cassada”, defende Depentor.

 

Atualmente, 70% dos roubos de cargas ocorrem hoje nas regiões próximas a São Paulo. Além dos eletroeletrônicos, carregamentos de autopeças e confecção estão na mira das quadrilhas de roubo de carga.


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