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29 de Setembro de 2016 – 03h41 horas / Jornal do Comércio

Depois de muitas negociações, o terminal Santa Clara, localizado no Polo Petroquímico de Triunfo, retoma a movimentação de contêineres, que foi interrompida há sete anos para que a estrutura atuasse também com etanol (empregado na fabricação do chamado plástico verde da Braskem). Como a empresa passou a receber o álcool apenas por ferrovia e rodovia, foi possível retomar a operação com contêineres. A expectativa agora é que o empreendimento atraia cargas da região de seu entorno e as que venham ou tenham como destino o Norte e Nordeste do Rio Grande do Sul, atualmente deslocadas para os portos catarinenses.


A operação será desenvolvida no píer IV do Santa Clara, enquanto os outros cais do complexo continuarão trabalhando com derivados de petróleo. A iniciativa foi possível através da parceria entre Braskem (que detém os direitos de uso sobre o terminal), Wilson Sons (que terá a incumbência de gerenciar as ações através da companhia Wilport) e Navegação Guarita (que fará o transporte de Triunfo a Rio Grande e no sentido inverso). O Tecon Rio Grande (que é controlado pela Wilson Sons) será justamente uma das pontas do trajeto, recebendo e enviando cargas para o que passa a ser chamado de Contesc (Contêineres Terminal Santa Clara).


Na cerimônia que marcou a volta da movimentação de contêineres, celebrada ontem no polo petroquímico gaúcho e que teve a presença do governador José Ivo Sartori, o diretor-presidente do Tecon Rio Grande, Paulo Bertinetti, era um dos mais emocionados, pois há anos defendia a ideia. O executivo argumenta que é uma forma de reestruturar o modal hidroviário. "Estamos trazendo o porto para o Centro do Estado, facilitando projetos logísticos e redução de custos", aponta.

 

Bertinetti prefere não revelar quanto foi investido na reformulação do Santa Clara, mas destaca que o píer IV foi transformado exclusivamente em um terminal de contêineres, tendo sido revitalizados um guindaste, com capacidade para 34 toneladas, armazém e área de manutenção. O dirigente estima que, em um raio de 80 quilômetros traçado a partir do terminal, há um mercado potencial para movimentar ao ano em torno de 100 mil TEUs (unidade equivalente a um contêiner de 20 pés).


O planejamento prevê a realização de duas viagens semanais (ida e volta) da embarcação da Navegação Guarita que atuará no Contesc. O navio, chamado de Guaíba, trouxe no sábado contêineres vazios de Rio Grande até Triunfo e fará na próxima semana o sentido inverso, pela primeira vez com cargas (resinas, frangos e tabaco). A embarcação tem capacidade para movimentar 85 contêineres de 40 pés ou 170 unidades de 20 pés. Além dessas cargas, a perspectiva é transportar nas próximas viagens produtos como couro, móveis, carne suína, móveis etc. Já entre os possíveis clientes estão empresas como Braskem, John Deere, Masisa, JBS e BRF.


O ideal logístico seria trazer os contêineres cheios de Rio Grande para o Santa Clara, com artigos importados, e enviar para o porto da Metade Sul contêineres também com a capacidade esgotada pelos artigos de exportação. No entanto, Bertinetti argumenta que o Rio Grande do Sul é um estado mais exportador do que importador e, por consequência, deverá haver um desequilíbrio, fazendo com que sejam movimentados alguns contêineres vazios. Sobre itens que poderiam vir através da importação o executivo cita peças, insumos para a indústria fumageira, embalagens, entre outros. Quanto a postos de trabalho, serão gerados cerca de 40 pelo Contesc.


Empreendedores projetam aumento do número de embarcações para cargas
Para poder realizar o transporte de contêineres pela hidrovia, a Navegação Guarita converteu um navio-tanque com 90 metros de comprimento, chamado de Guaíba, transformando-o em uma embarcação capaz de trabalhar com granéis sólidos e contêineres. O investimento na iniciativa foi de aproximadamente R$ 5 milhões. O diretor executivo da companhia, Werner Barreiro, adianta que a empresa possui duas outras embarcações que podem ser convertidas para operar com contêineres e atender a um possível incremento da demanda do mercado.


O navio leva cerca de 26 horas para completar o percurso entre Triunfo e Rio Grande. Barreiro comenta que a entrada da Wilson, Sons no projeto do Contesc cria uma expectativa muito positiva, pois o grupo possui experiência quanto à operação com contêineres. Devido a esse cenário, o dirigente aposta em um aumento de escala desse tipo de transporte.


O presidente do Conselho de Administração da Trevisa (controladora da Navegação Aliança), Fernando Ferreira Becker, revela que o grupo também tem interesse em movimentar contêineres a partir do terminal Santa Clara. "Mas, antes disso, algumas condições precisam ser vencidas", diz o empresário. No momento, a Navegação Aliança está focada no transporte de celulose e madeira, um serviço contratado pela CMPC Celulose Riograndense. Contudo, Becker adianta que está dentro dos planos da empresa agregar mais três embarcações a sua frota, que poderão movimentar cargas em geral e conteinerizadas. Não se tem um cronograma definido para efetivar a ação, até porque são enfrentadas muitas dificuldades atualmente para conquistar financiamentos. A companhia está tentando obter recursos através do Fundo da Marinha Mercante. As barcaças, cada uma com um custo estimado em torno de R$ 10 milhões, não serão autopropulsadas, contarão com navios-empurradores para serem deslocadas.


O diretor de logística e matérias-primas da Braskem, Hardi Schuck, destaca que o incentivo da hidrovia significará a retirada de muitos caminhões das estradas. "Para a Braskem, é muito importante ter esse modal mais sustentável para escoar resinas", frisa. Schuck ressalta ainda que a Braskem receberá um aluguel pela utilização do píer do Santa Clara.


Braskem e Bolognesi conversam sobre estação de recebimento de gás
Após a retomada dos trabalhos com contêineres, existe a possibilidade de o terminal Santa Clara operar, futuramente, com um insumo inédito em sua história: o gás natural. O grupo Bolognesi e a Braskem analisam a viabilidade de implantar uma estação de recebimento de gás no complexo de Triunfo. O gerente de relações institucionais da Braskem no Rio Grande do Sul, João Ruy Freire, salienta que o empreendimento só será materializado se houver um preço competitivo para o gás e se for confirmada a construção do terminal de Gás Natural Liquefeito (GNL) do grupo Bolognesi em Rio Grande (de onde viria o combustível até Triunfo). Em princípio, a Braskem utilizaria o gás natural na geração de energia, e não como matéria-prima.


Além do terminal de GNL, o projeto da Bolognesi prevê a implantação de uma termelétrica e de um gasoduto. Entretanto, a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) está estudando se revogará ou não a autorização para a empresa instalar a usina, devido à preocupação quanto ao cumprimento do prazo determinado por contrato para que a companhia entregue a energia produzida pela térmica (que originalmente foi estipulado para janeiro de 2019).


O secretário de Desenvolvimento, Ciência e Tecnologia, Fábio Branco, afirma que o projeto da Bolognesi é considerado como prioritário para o Estado. O dirigente informa que a previsão é que os licenciamentos ambientais do terminal de GNL, gasoduto e usina sejam concedidos antes do final do ano. Branco revela que está sendo avaliada a ida dele e do próprio governador José Ivo Sartori à Aneel para ressaltar a importância do empreendimento.


O superintendente do porto do Rio Grande, Janir Branco, acrescenta que somente o terminal de GNL deve absorver um investimento de R$ 67 milhões e que o píer ficará como patrimônio da Superintendência do Porto do Rio Grande (Suprg). Sobre outro vultuoso investimento no porto, a dragagem de manutenção, Branco comenta que há pendências ambientais que precisam ser tratadas entre o Ministério dos Transportes e o Ibama.


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